13.4.07

SylviaUP Ling | Aprender em SL

Sempre que um novo meio de comunicação social surge no seio da sociedade são-lhe apontadas como intrínseca função e motivo da sua invenção a transmissão da informação, do conhecimento, da cultura e das artes a todas as pessoas. Um bom exemplo é a televisão: quando este meio de comunicação social surgiu, todos acreditaram que não haveria uma única pessoa inculta à face da Terra, pois a “caixinha mágica” levaria a cada um de nós o conhecimento e a informação, aos quais a maioria (analfabeta) não tinha acesso através de livros ou jornais.
Algumas décadas passaram, e hoje sabemos que tais previsões não se concretizaram.
Hoje o mundo globalizado tem como principal meio de informação e comunicação a Internet (pelo menos o Ocidente liberal e capitalista). Como optimista que sou, vejo com bons olhos e de forma entusiástica a Internet como meio livre e acessível de difusão da cultura, conhecimento e da comunicação entre os Povos.
Fazendo um esforço para fechar os olhos a outras coisas menos positivas que proliferam pelo Second Life, agrada-me considerar este ambiente virtual e social como uma ferramenta de uso pedagógico e educativo. Porque todos estamos perto uns dos outros, porque todos estamos contactáveis, porque todos comunicamos.
Transpor o espaço da aula física e convencional para uma aula virtual passada no Second Life tem sido uma agradável e entusiástica experiência para mim. Para além da proporcionada maior proximidade entre professor-alunos, todos estamos “conectados na aula” a todo o tempo, sem quase darmos espaço a distracções, pois todos estamos “pregados ao ecrã”, à espera desta ou daquela resposta, deste ou daquele gesto.
Falando mais pessoalmente, este tipo de “conversa multilateral” em que as nossas aulas se transformaram (em vez dos monólogos teóricos protagonizados pelo professor, típicos das aulas convencionais) proporcionam-me uma maior desinibição e à-vontade para opinar, questionar, levantar assuntos. Acredito que estas tais “conversas multilaterais” desafiam permanentemente o nosso espírito crítico e apelam beneficamente a uma maior capacidade de assimilação, raciocínio e reflexão. As minhas colegas de turma partilharão desta opinião: estamos muito mais concentradas nas matérias apreendidas virtualmente no Second Life do que nos assuntos que formam a base dos tais monólogos dos professores, já acima referidos. Até mesmo o facto de termos um avatar através do qual podemos exprimir gestos, estilos de vida e personalidades “liberta-nos” dos nossos bancos de anfiteatro típicos das aulas convencionais.
Além disso, parece-me que o professor é cada vez menos professor, e os alunos são cada vez menos alunos, pois todos nos sentimos libertos para afirmar e contrariar, para aprender e para explicar. A matéria é recebida, rapidamente assimilada, e logo debatida, discutida, talvez potencializada com um ou outro contributo interessante e benéfico dado por um de nós, alunos.
Outro aspecto que quero referir é a possibilidade de podermos receber conhecimento vindo de outros espaços, de outras Universidades existentes fisicamente pelo Mundo, e existentes virtualmente no Second Life; podemos “sair da nossa sala de aula”, e buscar outros conhecimentos adicionais ou sobre os mais diversos assuntos.
Já que vivemos numa “aldeia global”, tiremos o melhor proveito possível dela. Que o conhecimento e o saber estejam acessíveis a todos aqueles que o desejem. Que as Universidades e outros locais de ensino e divulgação de cultura e saber se sensibilizem e se interessem por estes ambientes virtuais, onde o conhecimento e a informação podem ser partilhados, em vez de viverem restringidos aos seus cinzentos edifícios e confinados aos seus alunos matriculados.
Que a “aldeia global” não sirva apenas os interesses económicos das elites, mas que permita uma maior difusão do conhecimento, da cultura e da informação a todas as pessoas. O Second Life pode ajudar! Pena é que o acesso à Internet esteja confinado a uma pequena minoria da população mundial!

5 comentários:

Helena Borges disse...

Acho super útil a presença de instituições no SL. É bom para quem se faz representar lá e para quem usufrui disso.
Considero isso da "aldeia global" um pouco utópico ainda no SL porque como tu própria disseste, apesar da expansão constante da internet e das facilidades ao seu acesso, a internet chega a uma minoria do mundo.
No SL já tive a oportunidade de falar com europeus e americanos. Imagino que hajam bastantes asiáticos muito devido ao desenvolvimento chinês (embora que parcial) e japonês. Curioso (ou talvez perfeitamente compreensivel) eu nunca me ter encontrado com um africano...e sinceramente não estou muito optimista que isso aconteça num futuro próximo.
Quanto ao facto das instituições representadas no SL deixarem de estar restrictas aos "cinzentos edifícios", tenho pena que no SL não evoluam muito mais no que toca à construção dos seus espaços. O que comentei no post da Lili acho que também se encaixa neste. Seria interessante as faculdades e outras instituições darem asas à imaginação e terem espaços criativos que as representem no SL.

chiclete_ou_chicla disse...

Sylvia, achei o teu artigo muito interessante. Fala de muita coisa e levanta muitas questões importantes e, ao mesmo tempo, é breve, claro e conciso. Concordo contigo quando dizes que neste tipo de comunicação as aulas se tornam mais dinâmicas; tens razão quando referes que o professor é cada vez menos professor, assim como os alunos são cada vez menos alunos... Eu sinto isso perfeitamente e foi exactamente esta questão que eu enumerei quando da entrevista que demos ao jornal Público.
Embora não me considere introvertida, sinto sempre alguma inibição quando pretendo colocar uma questão, explicar algo ou opinar sobre algum assunto abordado nas referidas "aulas convencionais". De facto, o SL veio beneficiar estas conversas "multilaterais"; as nossas aulas são muito mais agradáveis, divertidas e a noção de que aprendemos brincando nunca foi tão óbvia para mim como agora, que tenho a oportunidade de viver esta experiencia...

vânia disse...

Ter aulas em SL é realmente diferente. Para além de concordar com todas as vantagens que o SL pode trazer quando bem aproveitado, concordo especialmente com o facto de nos deixar mais à-vontade para tirar dúvidas, questionar e opinar. Desta forma há uma maior participação de todas nós na aula, a pare dessa maior concentração que o "foco" no ecrã permite. As aulas ganham mesmo outra dinâmica. E experiência de hoje com a apresentação individual de cada uma provou-o mais uma vez.

Rita disse...

Sylvia o teu artigo foi mt interessante para reflectirmos sobre as potencialidades que o SL tem tb como meio de transmissão de cultura e conhecimento. As nossas aulas são a prova de que é possível em SL passar conteúdos e aprender enquanto estamos envolvidos num ambiente mt mais informal, no qual alunos e professor debatem um tema e discutem ideais, em vez de assistirmos a um monólogo por parte do professor

Paulo Frias disse...

Este tópico da aprendizagem tem sido dos mais avordados por nós (como se compreende). A Sílvia coloca bem as questões, e introduz a expressão "conversa multilateral" que carece de melhor explicação, a meu ver.
No entanto (e colocando por agora de lado os receios quanto à interferência dos interesses económicos), tem sido para nós evidente que estamos a cosntruir, quase instintivamente, novos paradigamas de comunicação apenas... porque existe SL!
Que significado pode isso ter na aprendizagem?
Será que a riqueza da nossa experiência em RL não está também presente em SL? Não será essa experiência a razão principal para "aprender" (ou aprender com a vida, numa linguagem mais vulgar)?
Penso que a maior diferença neste capítulo reside na concepção de uma aprendizagem "nova", onde, conjuntamente, construímos "conhecimento". Essa é a parte mais gratificante de aprender em SL (está a falar o professor, imaginem, o tal que devia estar a "ensinar" coisas...:).
Como artigo de opinião aho que está bem estruturado, e esse era um dos objectivos deste pequeno trabalho.